Entre os dias 13 e 30 de junho, João Pedro Flor Fernandes, Helena Carvalho Schmidt e André Augusto Manoel alunos da 2ª série do Colégio Catarinense, participaram do Curso de Formação de Liderança Inaciana em Bogotá, na Colômbia. O evento foi organizado pela Federação Latino-Americana dos Colégios Jesuítas (FLACSI), e foi a primeira participação do Colégio no evento. João Pedro, Helena e André, foram acompanhados pelo professor de Formação Humana, Anésio Schlickmann Kuelkamp.

Aos 16 anos, a experiência internacional marcou a vida dos jovens que se sentem preparados para disseminar o ideal inaciano de tornar o mundo mais humano, justo e fraterno. João e André já participam da Pastoral da Juventude nas suas paróquias, mas Helena nunca havia participado de encontro de jovens fora do Colégio. Para os três, os dias vividos ao lado dos novos amigos latino-americanos transformaram seu olhar social.

Expectativa do Convite

O Colégio Catarinense precisou escolher os jovens que seriam enviados ao encontro internacional, seguindo as orientações da FLACSI. Para os jovens, a surpresa foi imensa. “Já tinha ouvido falar do curso, mas não esperava ser convidado, pela bagagem necessária para um curso deste tipo. Quando chegou o convite fiquei muito surpreso, eufórico. Foi a minha primeira viagem para fora do estado”, partilha André.

Ao saber do curso, João identificou-se com a proposta. “Quando o professor Afonso explicou do curso, eu me senti identificado com as características. Fiquei muito feliz, mas estava preocupado com o andamento das aulas, do conteúdo de estudo. Mas lá, vi que valeu a pena”.

A dimensão espiritual da formação de lideranças deixou Helena preocupada. “Demorei para cair na real. Na verdade, não me sentia preparada e achava até que era a pessoa errada para ir ao curso. Não participava ativamente da vida religiosa. Foi na hora da missão nas periferias da Colômbia que me senti no caminho certo e o verdadeiro sentido de ter sido chamada”.

 

Mesmo continente, realidades diferentes

O curso reuniu jovens latino-americanos, alunos de colégios jesuítas. Mesmo fazendo parte de uma mesma rede de educação e morarem em um mesmo continente, os jovens tiveram boas surpresas ao conhecer uma realidade tão diferente das suas vidas. Lá, o idioma não afastou, mas provocou a criatividade para a comunicação. “Surpreendeu-me ter sido fácil falar com o pessoal. Quando não era o inglês, demos um jeito em espanhol ou na mistura do português”, partilha João.

Como os alunos do Catarinense chegaram uns dias antes do início do curso, eles ficaram hospedados na casa de famílias de outros jovens. João e André ficaram juntos; Helena, em uma residência próxima. “Surpreendeu-me a acolhida de família, e o que nos ajudou foi que o estudante da família falava um pouco de português”, partilha André. Semelhança na família que acolheu Helena. “A família foi super acolhedora, e um dos meninos falava o português com sotaque carioca”, brinca.

“Antes de partir, imaginava que estava indo para um país em que se fala muito do tráfico de drogas, mas lá, vimos que é muito mais. Visitamos diferentes cidades com beleza natural. Em Bogotá, a gente se deparou com um ótimo sistema de transporte coletivo. É uma cidade surpreendente, com imagem muito diferente do que passa na imprensa”, destacou João Pedro. André aproveitou a explicação e destacou a organização da cidade. “O trânsito é estressante, mas o transporte público realmente se destaca, ao lado de um certo planejamento urbano”.

A alimentação, uma das principais características culturais de um povo, foi destacada por Helena. “A comida é muito boa. Eles tem várias refeições no dia e muito bem servidas. Destaco a ‘arepa’, um alimento diário, que é uma espécie de batata. Na Colômbia, comer com eles é sinal de respeito!”.

A organização dos espaços públicos para prática de esporte e lazer também chamou a atenção. “E também me marcou muito a acolhida. O sorriso na rua é troca constante. Na cidade de missão, todos foram muito próximos e acolhedores. O povo colombiano é muito aberto. Pena que, ao chegarmos no Brasil, o sorriso no aeroporto não foi a mesma realidade”.

Mas nem tudo é belo. João Pedro partilhou sobre a pobreza com que se deparou nas cidades de missão. Ele esteve em São Paoblo, e lá a carne era vendida nas esquinas, a céu aberto. “Muita moto e pessoal pilotando sem capacete Na periferia, você se depara com abandono, esgoto a céu aberto. Nas cidades mais afastadas, o que me impactou foi a falta de água potável e a presença dos paramilitares”. “Lá nos deparamos com a realidade de pessoas que foram sequestrados pelas guerrilhas”, completou André.

 

A identidade inaciana na formação dos jovens

O grande diferencial dos alunos da rede jesuíta é participarem de comunidades educativas que partem da mesma raiz: a espiritualidade e a pedagogia inaciana. O modo de proceder, o jeito de ser o ideal a ser alcançado é universal, vivido em todo o mundo nos colégios jesuítas. Os jovens compreenderam esta vivência. “Percebemos a convergência no jeito de ser de cada participante, e isto se deve por estarmos em colégios jesuítas”, destacou Helena. Para João, foi o momento de perceber a unidade. “Vimos que temos a mesma raiz da pedagogia e espiritualidade inaciana”.

“O intercâmbio entre os colégios, de uma maneira informal, foi uma grande experiência para os jovens, indo muito além do programa do curso. Esta experiência deveria ser constante com os países mais próximos.”, destacou o professor Anésio ao refletir sobre o encontro de jovens com a mesma identidade, o jeito inaciano.

O curso trabalhou o autoconhecimento, a liderança juvenil, o conhecimento da realidade latino-americana e o compromisso social. Todas as características inspiradas na espiritualidade inaciana, que promove o encontro pessoal com Deus e a opção pelo Reino no seguimento de Jesus Cristo.

“O curso foi realmente prático. Tudo muito bem pensado, e cada momento nos proporcionava a experiência de refletir o que foi vivido. Tivemos oportunidade de manifestar o que vivemos de diferentes formas na dança, teatro, texto”, destacou João. Helena lembra que tudo tinha um sentido, fundamento: “As atividades nos faziam pensar”. O registro dos sentimentos, orientado por Santo Inácio, nos exercícios espirituais, foi ressaltado por André. “Percebi que sempre escrevíamos, registrávamos nossas experiências”.

 

Experiência do encontro com Deus

Durante o encontro, os jovens viveram experiências de oração inaciana, exame diário de consciência e acompanhamento pessoal. Este foi o passo para ações concretas na formação de lideranças.

Helena encontrou, nos pequenos acontecimentos, a presença de Deus. “Todos os dias, participávamos da oração pela manhã, e esta experiência era partilhada durante o dia. Senti Deus o dia inteiro: quando percebiam minha ausência, nas refeições, quando conseguíamos nos comunicar tão bem, mesmo sendo de diferentes línguas”.

A oração não precisa ser verbalizada ou seguindo fórmulas tradicionais. Esta foi a experiência de João Pedro. “As orações eram reflexivas e dinâmicas, nada era maçante. Era como rezar com um jeito diferente. Na verdade, percebi um outro modo de ser igreja e que a relação com Deus é mais intensa. A fé é mais que o rito e é vivência comunitária. Uma vivência prática da fé, não ficando apenas na teoria”.

Para o jovem André, que participa de grupo de jovens e da liturgia na sua comunidade, foi um revigorar da chama. “Passei a compreender a missa como algo diferente. Na missão, vi o povo esperando ansioso pela Celebração da Eucaristia. Vi que a oração não é algo complicado; é conversar com Deus de forma simples”.

“Eu consegui perceber que Deus é diferente, é próximo. Renovei minha confiança na Igreja. A religião é um apoio, e Deus está cuidando de mim”, partilha Helena.

 

Exame diário de consciência

Para Helena, o exame de consciência é um grande combustível para cultivar o encontro pessoal com Deus. “O conselho é fazer o exame de consciência. A pausa inaciana nos ajuda a avaliar o que fizemos, a viver o encontro de Deus em todas as coisas que realizamos durante o dia”. João complementa: “se fazer a parada do dia, iremos mudar para melhor. A mudança é que nos diferencia para sair da mesmice”.

Pedagogia e Espiritualidade encarnadas na vida

Além das conferências sobre vida comunitária, realidade latino-americana, alternativas de transformação, ecologia e meio ambiente, os participantes foram enviados em missão para comunidades de contexto social humilde, proporcionando o conhecimento da realidade da Colômbia.

“Marcou-me muito o sentimento de ser latino-americano. Somos uma única nação de povos que precisam estar unidos pelo bem comum. Precisamos parar com a idolatria de países considerados potências e perceber que nosso continente precisa de nós; somos uma cultura que precisa ser valorizada”, destacou André. João, por sua vez, fez uma análise da realidade econômica, deixando de lado o sentimento. “Lá foi possível ver como os outros percebem e olham para o Brasil. Ora, na área econômica, somos potência e podemos ser fortes, protagonistas. Faltam-nos apenas lideranças sérias e comprometidas”.

E a mudança começa com estes jovens. Helena aponta o primeiro passo. “Refletimos a história pessoal e que o início da mudança está em nós, para, depois, atingirmos os outros e o mundo. Hoje me sinto aberta para novas relações, quebrei minhas bolhas de contato com o outro e aprendi a socializar com as pessoas para viver a mudança”.

A experiência de missão em comunidades carentes foi um marco para os participantes. “Olhar o mundo com olhar de diferentes realidades para compreender o olhar do pobre. Viver a realidade de quem passa necessidades supera discursos e teorias”, destacou Anésio.

 

A missão começou

Com o retorno para casa, a missão dos jovens começou. Viveram experiências que começam a mudar suas vidas. A proposta é iniciar por pequenos atos e com o engajamento em projetos em andamento na Comunidade Educativa.

“Acendemos a chama de ajudar o próximo e quero me integrar no projeto “Anjo Gabriel”, de apoio às crianças no Educandário. Irei me crismar neste ano e me comprometo a vivenciar a prática de espalhar o bem”, destaca Helena.

Retomar a vida pastoral com afinco é o compromisso de André. “Reacendeu a chama da ‘missionariedade’ e da pastoral. Agora vou desligar o automático e refletir a prática. Quero descobrir mais sobre a espiritualidade inaciana”.

João relembrou que a mudança pessoal é o início da caminhada. “É preciso continuar acreditando que, ao mudar a si mesmo, vamos mudar o meio em que vivemos, exercendo as técnicas de liderança que aprendemos”.

A continuidade do trabalho e da experiência será o combustível para os jovens. “A impressão do retorno dos jovens foi perceber que a vida é melhor do que imaginam e que podem estar engajados nas campanhas vividas pelo Colégio para ajudarem a mudar a sociedade”, aconselhou Anésio.

A receita

Os jovens partilham as características de um líder inaciano que passam a viver: pensar no bem das pessoas antes do bem pessoal; saber falar, entusiasmando as pessoas por uma causa; perceber o ambiente e as necessidades dos que ali estão; o autoconhecimento e estar aberto para outras experiências; deixar-se surpreender com coração aberto, em constante mudança; aprender com as diferenças.

A partilha final

“Acredite em si mesmo e nos seus sonhos. Enquanto tivermos fé, podemos mudar o mundo”, compartilha Helena.

“Não precisa ser o melhor do mundo, mas fazer o melhor para o mundo. Viver e buscar o magis inaciano. O sucesso pelo sucesso não faz sentido, é preciso ter propósito, ter ideal em tudo que fazemos”, aponta André.

“Quando nós mudamos, mudamos as pessoas à nossa volta”, destaca João.