O paradoxo da fé cristã é que só pode falar de Deus falando de “Deus conosco”: Deus humanizado, feito carne, vida humana, in-fans, criança sem palavra. ‘A Palavra se fez carne’. Os Santos Padres denominavam essa ‘inclinação’, esse movimento de Deus para nós, de ‘condescendência’.

Essa maneira de Deus ser determina o modo cristão de encontrá-lo. Para fazer a experiência de Deus não temos que fugir do mundo real, mas mergulhar na trama da vida e da história humana. ‘Descer ao encontro de Deus’ é a resposta humana à ‘con-descendência’ de Deus.

O tempo do advento – tempo de aprender como Deus vem a nós – e a celebração litúrgica do Natal – tempo de experimentar a sua proximidade e con-descendência – são o tempo de reavivar em nós a fé e a esperança nesse modo discreto e silencioso de Deus nos ‘falar’.

Mas para entender essa linguagem é necessário estar abertos às ‘surpresas’ de Deus nas entranhas da vida cotidiana. Porque, desde o início, ele se fez presente de maneira discreta e silenciosa: sem levantar a voz, sem quebrar o caniço rachado, sem apagar a mecha que ainda fumega (cfr. Is 42, 1-4; Mt 12, 15-21).

Para nós, como Companhia de Jesus no Brasil, essas ‘surpresas’ são os sobressaltos que experimentamos na construção comum de um caminho novo de vida e de missão para a Província do Brasil. Momento, pois, de advento, de feliz espera do Senhor, e de reconhecer e celebrar essa proximidade.

Reavivemos a fé e a esperança de que Deus continua a agir em nossa história de companheiros de Jesus por meio de mediações humanas frágeis e vulneráveis; e assim, portadoras do dom que Deus nos faz no seu Filho, o ‘Emanuel’.

Que o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, nos conceda a todos e a cada um dos jesuítas e colaboradores que conosco estão na mesma missão, a graça de sabermos ler os ‘sinais’ com os quais Deus nos acena e nos chama a segui-lo no caminho de serviço aos seres humanos. Porque a ‘boa notícia’ do Natal é que, em Jesus, Deus resgata a grandeza da dignidade humana para todos.

Feliz Natal do Senhor!