O Papa Francisco recebeu, no último dia 7 de junho, mais de 9 mil pessoas no Vaticano. Entre os fiéis, estavam alunos e ex-alunos de escolas jesuítas, suas respectivas famílias e diversos professores da Itália e da Albânia.

Nesse encontro, inúmeras perguntas foram feitas ao novo Papa, até o momento em que uma menina, no meio da multidão, perguntou ao ex-arcebispo de Buenos Aires se ele desejara ser Pontífice. A resposta do Papa à pergunta da menina foi categórica: “não”. Nas palavras de Sua Santidade, “Deus não teria abençoado alguém que tivesse vontade de ser papa. Eu não queria ser papa.”

Durante o encontro, Francisco pediu aos jovens para serem “pessoas livres”, que não tivessem medo de ir “contra a corrente”. Nesse sentido, de acordo com o Papa, a liberdade significa saber “refletir aquilo que fazemos, saber distinguir o que é bem daquilo que é mal, reconhecer os comportamentos que fazem crescer, enfim: sempre escolher o bem, pois nós somos livres para o bem”.

Em um momento muito oportuno, o Sumo Pontífice aproveitou para dizer aos alunos das escolas jesuítas que eles são preparados no colégio para que se abram para o mundo à sua volta, especialmente para os mais pobres e necessitados, justamente para melhorar o mundo em que vivem. “Sejamos magnânimos! E essa virtude significa ter um coração grande, ter grandeza de espírito, isto é, ter grandes ideais, ter vontade de realizar grandes coisas para responder àquilo que Deus nos demanda”, discursou o Papa, que declarou, ainda, que a escola não amplia somente a dimensão intelectual das pessoas, mas, também, os aspectos concernentes à condição humana.

Quando questionado sobre a dificuldade em aceitar residir no apartamento pontifical, o Papa Francisco respondeu sorrindo: “Para mim, é um problema de personalidade, preciso viver rodeado de pessoas, não posso viver sozinho”.

Finalmente, em relação ao difícil momento pelo qual passa a Itália, Sua Santidade afirmou que o mundo todo está em crise, e que a crise é de valor: do valor dos seres humanos. Nas palavras dele, “A crise atual é a crise da pessoa, que já não conta. Só o dinheiro conta.”

 

Confira, abaixo, o discurso na íntegra do pontífice:

“Queridos jovens!

Estou contente de recebê-los com as suas famílias, os educadores e os amigos da grande família das Escolas dos Jesuítas italianos e da Albânia. A todos vocês dou a minha afetuosa saudação: bem-vindos! Com todos vocês, sinto-me verdadeiramente “em família”, e é motivo de particular alegria a coincidência deste nosso encontro com a solenidade do Sagrado Coração de Jesus.

Gostaria de dizer-lhes, antes de tudo, uma coisa que se refere a Santo Inácio de Loyola, o nosso fundador: No outono de 1537, Santo Inácio foi a Roma com o grupo de seus primeiros companheiros e se perguntou: se nos perguntarem quem somos, o que responderemos? Naquele momento, de forma espontânea, veio a resposta: “Diremos que somos a Companhia de Jesus!” (Fonte: Narrativi Societatis Iesu, vol. 1, pp. 320-322).

Assim, surgiu um nome de desafio, que queria indicar um relacionamento de estreitíssima amizade, de afeto total por Jesus, cujos passos o então grupo de companheiros queria seguir.

Por que contei esse fato para vocês? Porque Santo Inácio e os seus companheiros entenderam que Jesus ensinava a eles como viver bem, como realizar uma existência que tenha um sentido profundo, que dê entusiasmo, alegria e esperança; entenderam que Jesus é um grande mestre de vida e um modelo de vida, e que não somente os ensinava, mas os convidava também a segui-Lo nesse caminho.

Queridos rapazes, se agora eu perguntasse a vocês: “Por que vão à escola?”, o que me responderiam? Provavelmente, haveria muitas respostas, segundo a sensibilidade de cada um. No entanto, penso que se poderia resumir tudo dizendo que a escola é um dos ambientes educativos onde se cresce para aprender a viver, para formarem-se homens e mulheres adultos e maduros, capazes de caminhar, de percorrer o caminho da vida. Como a escola ajuda vocês a crescerem? Ela ajuda vocês não somente para que desenvolvam a inteligência, mas para uma formação integral de todos os componentes da personalidade.

Seguindo isso que nos ensina Santo Inácio, na escola, o elemento principal é aprender a ser magnânimo. A magnanimidade, essa virtude do grande e do pequeno, é o que nos faz olhar sempre o horizonte. O que quer dizer ser magnânimo? Quer dizer ter o coração grande, ter grandeza de alma, quer dizer ter grandes ideais, o desejo de realizar grandes coisas para responder àquilo que Deus nos pede, e propriamente para realizar bem as coisas de cada dia, todas as ações cotidianas, os compromissos, os encontros com as pessoas; alguém magnânimo deve fazer as coisas pequenas de cada dia com um coração grande e aberto a Deus e aos outros.

É importante, então, tratar a formação humana destinada à magnanimidade. A escola não amplia somente a dimensão intelectual de vocês, mas também a humana. Dessa forma, penso que, de modo particular, as escolas dos Jesuítas são atentas a desenvolver as virtudes humanas: a lealdade, o respeito, a fidelidade, o compromisso. Gostaria de me debruçar sobre dois valores fundamentais: a liberdade e o serviço.

Assim sendo, antes de tudo, sejam pessoas livres! O que quero dizer? Talvez se pense que liberdade seja fazer aquilo que se quer; ou aventurar-se em experiências-limite para experimentar a emoção e vencer o tédio, mas isso não é liberdade. Liberdade quer dizer saber refletir sobre aquilo que fazemos, saber distinguir aquilo que é bem daquilo que é mal, perceber aqueles que são os comportamentos que fazem crescer, isto é: escolher sempre o bem. Somos livres para o bem, e por isso não deve haver medo de andar contra a corrente, mesmo que não seja fácil! Ser livre para escolher sempre o bem é desafiador, mas os tornará pessoas que têm a coluna dorsal forte, que sabem enfrentar a vida, pessoas com coragem e paciência.

A segunda palavra é serviço. Nas suas escolas, vocês participam de várias atividades que acostumam vocês a não se fecharem em vocês mesmos ou no pequeno mundo individual, mas a abrirem-se aos outros, especialmente aos mais pobres e necessitados, a trabalharem para melhorar o mundo onde vivemos. Sejam homens e mulheres com os outros e para os outros, aqueles verdadeiros campeões no serviço aos outros.

Dessa forma, para serem magnânimos com liberdade interior e espírito de serviço, é necessária a formação espiritual. Queridos rapazes, queridos jovens, amem sempre mais Jesus Cristo! A vida de vocês é uma resposta ao Seu chamado e vocês serão felizes e construirão bem sua vida, se souberem responder a esse chamado. Sintam a presença do Senhor na vida de vocês. Ele é próximo a todos como companheiro, como amigo, que sabe ajudá-los e compreendê-los, encoraja vocês nos momentos difíceis e nunca os abandona. Na oração, no diálogo com Ele, na leitura da Bíblia, descubram que Ele está realmente perto de vocês e aprendam, também, a ler os sinais de Deus na vida de vocês. Ele nos fala, também, através dos fatos do nosso tempo e da nossa existência de cada dia; resta, a nós, escutá-Lo.

Não quero ser muito longo, mas uma palavra específica gostaria de dirigir também aos educadores: aos Jesuítas, aos professores, aos trabalhadores das escolas e aos pais: Não percam a coragem diante das dificuldades que o desafio educacional apresenta! Educar não é uma profissão, mas uma atitude, um modo de ser; para educar, é necessário sair de si mesmo e estar em meio aos jovens, acompanhá-los nas etapas de seu crescimento e estar ao seu lado. É preciso dar a eles esperança e otimismo para o seu caminho no mundo. Deve-se ensiná-los a ver a beleza e a bondade da criação e do homem, que conserva sempre a marca do Criador, mas, sobretudo, educadores, testemunhem com o próprio modo de viver aquilo que comunicam.

Um educador — Jesuíta, professor, trabalhador, pais — transmite conhecimento, valores com as suas palavras, mas será incisivo sobre os rapazes, se isso for acompanhado pelo seu testemunho, pela sua coerência de vida. Sem coerência, não é possível educar! Todos vocês são educadores, não há como delegar nesse campo. Então, a colaboração em espírito de unidade e de comunidade entre os diversos componentes educativos é essencial e deve ser favorecida e alimentada. O colégio pode e deve ser um catalisador, ser lugar de encontro e de convergência de toda a comunidade educativa com o único objetivo de formar, ajudar as pessoas a crescerem de forma madura e simples, com competência e honestidade, para que saibam amar com fidelidade, viver a vida como resposta à vocação de Deus e, futuramente, para que escolham a profissão como serviço à sociedade.

Aos Jesuítas, então, gostaria de dizer que é importante alimentar o seu compromisso no campo educativo. As escolas são um instrumento precioso para dar suporte ao caminho da Igreja e de toda a sociedade. O campo educativo, então, não se limita à escola convencional. Encorajem-se a procurar novas formas de educação não convencionais, segundo “as necessidades dos lugares, dos tempos e das pessoas”.

Finalmente, saúdo a todos os ex-alunos presentes, aos representantes das escolas italianas da Rede Fé e Alegria, que conheço bem pelo grande trabalho que realiza na América do Sul, especialmente entre as classes mais pobres. Envio, também, uma saudação particular à delegação do Colégio albanês de Scutari, que, depois dos longos anos de repressão, em 1994 retomou a sua atividade, acolhendo e educando rapazes católicos, ortodoxos, muçulmanos e, também, alguns alunos nascidos em contextos familiares agnósticos. Assim, a escola se transforma em um lugar de diálogo e de sereno confronto, para promover atitudes de respeito, escuta, amizade e espírito de colaboração.

Queridos amigos, agradeço a todos por este encontro. Confio vocês à materna intercessão de Maria e os acompanho com a minha bênção: o Senhor está sempre próximo de vocês, levanta-os das quedas e os empurra para que cresçam e façam escolhas sempre mais altas “com grande alma e liberdade”, com magnanimidade. Ad Maiorem Dei Gloriam.”