Papa Francisco assinou nesta quinta-feira, 3 de abril, o Decreto da Congregação para a Causa dos Santos que inscreve o Beato José de Anchieta “Apóstolo do Brasil”, no álbum dos Santos da Igreja por meio da canonização equipolente. A canonização Equipollente é a prática utilizada no contexto de figuras de particular relevância eclesial para as quais é atestado um extenso e antigo culto litúrgico e uma ininterrupta fama de santidade e prodígios. O jesuíta Anchieta dá nome ao Grupo Escoteiro do Colégio Catarinense, fundado pelo Irmão Jorge Knorst,SJ.

São José de Anchieta

Nasceu em 19 de março de 1534 em São Cristóvão da Laguna, Ilha de Tenerife, Arquipélago das Canárias, Espanha. Entrou na Companhia de Jesus em 1º de maio de 1551, em Coimbra, Portugal; após ter emitido os primeiros votos, foi enviado às missões do Brasil; aí, impelido pelo amor de Cristo, dedicou-se inteiramente à promoção humana e cristã dos indígenas e, mais tarde, à pastoral dos negros africanos, sempre à luz do Evangelho, perseverando incansavelmente até à morte nesta  multiforme atividade apostólica. Fundou o Colégio São Paulo de Piratininga, que deu origem à cidade de São Paulo, e esteve presente na fundação da cidade do Rio de Janeiro. Também se deve a ele a fundação de outras cidades brasileiras. Ordenado sacerdote em 1556, em Salvador, dois anos mais tarde foi designado Provincial de todos os jesuítas do Brasil, cargo em que, durante dez anos, se notabilizou pelas suas qualidades de Superior providente e chefe admirável. Nessa função, enviou os primeiros jesuítas para Assunção, no Paraguai, criando as raízes das famosas Reduções. Escreveu na língua Tupi uma gramática e, depois, um catecismo, assim como diversas peças teatrais com finalidade lúdica e catequética. Destaca-se dentre sua vasta obra literária o famoso poema à Virgem Maria, escrito durante seu cativeiro junto aos índios Tamoios, em Iperoig, hoje Ubatuba (SP). Dedicou toda sua vida à evangelização do Brasil e foi agraciado com o título de Apóstolo do Brasil. Faleceu no domingo 9 de junho de 1597, em Reritiba, hoje Anchieta (ES).

A Canonização Equipollente

A praxe adotada para a canonização de Beato José de Anchieta é aquela da canonização “equipollente”, prática utilizada no contexto de figuras de particular relevância eclesial para as quais é atestado um extenso e antigo culto litúrgico e uma ininterrupta fama de santidade e prodígios. A mesma praxe foi adotada por Papa Francisco para as canonizações de Angela Foligno (9 de outubro de 2013) e de Pedro Fabro (17 de dezembro de 2013).

Formulada pelo Papa emérito Bento XVI na sua obra De Servorum Dei beatificazione et de Beatorum Canonizatione  tal prática é regularmente adotada pela Igreja, mesmo que não com tanta frequência. Neste tipo de canonização o Papa estende respectivamente a toda à Igreja o culto de um servo de Deus que ainda não foi canonizado, mediante a insersão de sua festa, com missa e ofício, no Calendário da Igreja. Trata-se, portanto, de um sentença definitiva do Papa sobre a santidade do servo de Deus, sentença expressa não com a tradicional fórmula de canonização, e sim por meio de um decreto que determina que a Igreja venere aquele servo de Deus com o culto reservado aos santos canonizados.

Como explicado recentemente pelo cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, em um artigo publicado no jornal vaticano “l’Osservatore Romano”, para este tipo de canonização “são necessários três requisitos: a prova antiga do culto, atestado constante e comum de dignidade histórica de fé sobre as virtudes ou o martírio e a ininterrupta fama de prodígios”. Casoe estas condições sejam suficientes, “o Sumo Pontífice, por sua autoridade, pode proceder à canonização equipollente, ou seja, à extensão à Igreja do recitamento do ofício divino e da celebração da Missa sem qualquer sentença formal definitiva, sem ter cumprido nenhum processo jurídico, sem ter cumprido as consuetas cerimônias”.

Muitos exemplos desta forma de canonização aconteceram durante o pontificado de Bento XIV como, por exemplo, os santos Romualdo (canonizado 439 anos depois de sua morte), Norberto, Bruno, Pedro Nolasco, Raimundo Nonato, João de Matha, Feliz de Valois, a rainha Margareth da Escócia, o rei Estêvão da Hungria, Venceslau Duque de Boêmia e Papa Gregório VII.

Na história recente, João Paulo II realizou três canonizações com a prática equipollente: João de Fiesole, em 3 de outubro de 1982, conhecido como Beato Angelico, junto com Salvador Lilli e Joana Jugan. Bento XVI utilizou a prática para canonizar, em 10 de maio de 2012, Ildegarda de Bingen. Diferente será o caso de Papa João XXIII, cuja canonização acontecerá no dia 27 de abril, para a qual foi dispensada a confirmação de um milagre e, portanto, não pode ser considerada como equipollente.