“Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? – Diz o Senhor Deus. – É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora, livres, os oprimidos e quebrar toda espécie de jugo. É repartir seu alimento com o esfaimado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir os maltrapilhos, em lugar de desviar-se de seu semelhante”. (Is 58, 6-7)

A Igreja vive um momento muito especial em seu calendário litúrgico, a Quaresma (quarenta dias até a Páscoa), tempo destinado a reflexão, oração, introspecção, conversão, jejum, caridade e, acima de tudo, de vivência do Mistério Pascal. Durante esse período, celebramos o memorial da Paixão, a morte e a Ressurreição de Cristo, que nos conduz para a Luz, para a plenitude da vida e para a nossa própria ressurreição.

A Quaresma, como preparatório para a Páscoa, é um tempo de graça, um verdadeiro Kairós e uma vivência cristã em nossas vidas, que se inicia na Quarta-Feira de Cinzas e termina na Quinta-Feira Santa. Nesse tempo, fazemos a experiência de reconhecer nossos erros, recorrendo às tradicionais práticas do jejum, da caridade e da oração, estendendo-as em um sentido amplo de transcendência cristã, de caridade fraterna e de profundo amor e intimidade com Deus. É um tempo forte de penitência e conversão, suscitado pela consciência do pecado, da injustiça e do desrespeito à vida.

Nesse sentido, a Campanha da Fraternidade (CF), que se realiza durante a Quaresma desde 1964, convida-nos a refletir sobre as estruturas de opressão, violência e injustiças, à luz da Palavra de Deus, que exige conversão, justiça e solidariedade de todos nós.  Sob o tema “Fraternidade e superação da violência” e o lema “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8), a CF convida a todos a construírem uma cultura de fraternidade, denunciando as ameaças e violações à dignidade da vida.

Em sua mensagem para a Quaresma 2018, o Papa Francisco afirma: “Deus, na Sua Providência, oferece-nos a Quaresma, como sinal sacramental da nossa conversão, que anuncia e torna possível voltar-se a Deus de todo coração e com toda a nossa vida”. Segundo o Papa, o melhor jejum é o de palavras negativas, a serem substituídas por palavras BONDOSAS; de descontentamento, dando lugar à GRATIDÃO; de raiva, em favor da MANSIDÃO, da HUMILDADE e da PACIÊNCIA; e do pessimismo, para que nos enchamos de ESPERANÇA e OTIMISMO.

Assim, imbuídos desse espírito, que tenhamos uma abençoada Quaresma, pautada na conversão do nosso coração, na caridade cristã e no testemunho da Ressurreição de Cristo. Que este seja o nosso compromisso – lutar em favor da vida, da dignidade e do cuidado com a nossa casa comum, para vivermos em um mundo justo, solidário e sem violência.

Paz e Bem!

Afonso Luiz Silva
Diretor-geral